segunda-feira, 30 de abril de 2012

O deus do Alcorão é o mesmo Deus da Bíblia?



Magno Paganelli


No post anterior tratei a questão da confusão entre os nomes dados por árabes e judeus a quem chamam “Deus”. Jeová (Yahweh) é o Deus judaico-cristão e árabes e muçulmanos têm Allah como expressão da maior divindade. A questão equacionou a confusão que não interessa aos cristãos, de confundir a adoração devida a Jeová. Ao profeta do Islã, Mohammad, interessava aproximar-se de judeus e cristãos, pois se conseguisse convencê-los teria muitos possíveis seguidores. Mas Jeová e Allah são essencialmente distintos.

E como podemos saber? Lendo a Bíblia e o Alcorão e comparando. Os teólogos e sábios muçulmanos insistem em que judeus e cristãos coromperam as Escrituras e Mohammad foi enviado por Allah a fim de corrigir isso (é possível ver uma possível contradição nas Suras 4.136 e 10.94, versão Challita). Se fosse o mesmo ser, por que houve descontinuidade da Bíblia para o Alcorão, escrito 600 anos depois de Cristo?

Allah é radicalmente oposto a Jeová. O discurso islâmico quando os imigrantes chegam a uma nação sempre foi de paz. Assista a uma entrevista, leia um edital, procure uma manifestação oficial e verá alguém preocupado com o desenvolvimento social, com a educação, com os pobres e devotado às orações, jejuns e espiritualidade. Seria muito bom se o espírito do Islã fosse esse.

A repetida alegação de que o deus do Islã seja o mesmo Deus cristão com nomes diferentes não é verdade. Se um muçulmano pensa assim, está enganado sobre Jeová. Essa afirmação pode ser conferida, pois o Alcorão registra o que estou afirmando. Allah insistentemente ameaça de sofrimento eterno no inferno ou sofrimentos e castigos, julgamento e perdição uma vez a cada 7,9 versos. Em contraste, no Antigo Testamento isso ocorre uma a cada 774 versos e no Novo Testamento uma a cada 120 versos. No Antigo Testamento, que os muçulmanos acusam de também promover a guerra e a vingança, os castigos representam a menor parte de todo o texto. Sem contar que esses textos precisam ser avaliados à luz de uma exegese séria, que não é feita por eles quando citam a Bíblia. Nem mesmo no estudo do Alcorão se mostram fiéis aos critérios de estudo de textos antigos ou sagrados (hermenêutica). Veja isto:

... a tendência crê na possibilidade do ijtihad (livre) nos demais domínios da vida, e por conseguinte na legitimidade de trocar ou modificar o Texto Religioso [Alcorão e hadiths] em seu sentido interpretativo, segundo os interesses do momento e as circunstâncias da situação.(1) (ênfases acrescentadas)

Que “verdade” é essa que pode ser mudada em função de “interesses do momento e circunstâncias da situação”?

O Alcorão não tem uma sequência de 100 versos sem uma ameaça de perdição no inferno. Dos seus 6.151 versos, 109 deles são versos de guerra, isto é, um a cada 55 versos estimula a guerra.(2) Por esse motivo é preciso entender que se trata de dois seres divergentes.

O Deus judaico-cristão, embora rigoroso com os seus, não tem prazer na morte do ímpio (Ez 33.11), e corrige como qualquer um de nós faria com seus filhos, mas ama, protege, orienta e, principalmente, dá graça, salva generosamente (Ef 2.8,9). Allah não dá garantias de salvação, salvo ao mártir, aquele que “morre pela causa”. Aos demais, é preciso contar com a boa sorte após a morte.

O Islã não comporta a crença da salvação como obra de Deus em favor do pecador. O deus do Islã não salva, mas é rápido e eficiente para enviar os infiéis para o fogo. O hadith 24 diz que o Islã é uma religião que não crê no Salvador vindo de Deus, e apoia a salvação pelas obras:

Ó servos meus, são as vossas obras que computo. E logo vos compensarei por elas.

No comentário de abertura de Os Quarenta Hadiths, o libanês muçulmano Samir El Hayek afirma:

Todas as pessoas nascem sem pecado, e nobres, sendo que não há necessidade de um Salvador. Elas são responsáveis pelo que têm ganho, de bom ou de mal.(3)

Tem devoção e temos a Deus, onde quer que estejas. E depois de haveres cometido uma falta, apressa-te em contrabalançá-la com uma boa obra, pois esta a extirpará. Ademais, convive bondosamente com as pessoas.(4) (tradição Tirmizi)

O professor Hayek afirma não haver Salvador nem a necessidade de um. Os Ditos (5) asseguram ser preciso “lutar contra os idólatras, até que prestem testemunho de que não há outra divindade”.(6) O raciocínio lógico que se obtém da junção desse ensino é o seguinte:

1. Não há Salvador
2. Minhas obras levam-me à salvação
3. Lutar contra os infiéis (judeus e cristãos) é uma obra desejável
4. Para salvar-me, vou combatê-los
Embora o Alcorão chame Allah de “clemente e misericordioso” exaustivamente, o Deus cristão não promove esse pensamento. Paulo diz como cristãos devem encarar todo e qualquer conflito:

... pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais (Ef 6.12).

Em qualquer situação os cristãos verão as divergências nesta perspectiva; não lutamos no campo físico, pessoal e material, mesmo sabendo que a consequência natural do mundo espiritual ocorra no mundo físico.



NOTAS

(1) ASSAYED, Ayatullah Al-Odhma & ASSADR, Mohammad Baquer. Estudos islâmicos sobre Al-Wilayah e Al Mahdi. São Paulo: Centro Islâmico no Brasil, 2006, p.63. (2) RICHARDSON, Don. Segredos do Alcorão. Camanducaia: Missão Horizontes América Latina, 2007. (3) HAYEK, Samir. Os quarenta hadith (ditos), p. 2. (4) Ibidem, p. 6. (5) Os Ditos (hadiths ou ahadiths são comentários dos ditos do profeta Mohammad (Maomé) preservados oralmente por seus companheiros e pelos primeiros líderes do Islã. (6) O Dito 8 diz: “Deus me ordenou lutar contra os idólatras, até que prestem testemunho de que não há outra divindade além do Deus único, e de que Mohammad é o Mensageiro de Deus... Se cumprirem isso, terão salvaguardado suas vidas e seus bens de mim... Deus os fará prestar contas” (Bukhari e Muslin). Ibidem, p. 4.


(*) Este artigo foi extraído e adaptado do livro Islamismo e Apocalipse, de Magno Paganelli (Arte Editorial, 2012). É usado com autorização e pode ser reproduzido desde que citada a fonte. http://arteeditorial.net.br/web/


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Até Jesus já alertava sobre a diabólica Teologia da Prosperidade!




Vera Siqueira

Ontem reli a Parábola do Semeador, e fiquei pasma com o que Jesus disse há mais de dois mil anos e que está se tornando realidade nos dias de hoje. Antes, vamos rever essa passagem:

“Tendo Jesus saído de casa, naquele dia, estava assentado junto ao mar; e ajuntou-se muita gente ao pé dele, de sorte que, entrando num barco, se assentou; e toda a multidão estava em pé na praia. E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na; e outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda; Mas, vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a sessenta e outro a trinta. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: Por que lhes falas por parábolas? Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado; porque àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, E, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, E ouviram de mau grado com seus ouvidos, E fecharam seus olhos; Para que não vejam com os olhos, E ouçam com os ouvidos, E compreendam com o coração, E se convertam, E eu os cure.

Mas, bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram. Escutai vós, pois, a parábola do semeador.

Ouvindo alguém a palavra do reino, e não a entendendo, vem o maligno, e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho. O que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição, por causa da palavra, logo se ofende; e o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera; mas, o que foi semeado em boa terra é o que ouve e compreende a palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta.” – Mateus 13:1-23  

Vejam bem: os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a Palavra, tornando-a infrutífera. Mas será que isso se refere também à Teologia da Prosperidade, e não apenas àqueles que trocam o Evangelho pelas benesses materiais?

Eu penso que sim. Ora, Jesus disse que a busca pelas riquezas torna a Palavra infrutífera, e o que vemos nas igrejas onde se prega a famigerada Teologia da Prosperidade?
  • Crentes totalmente carnais, infantis, que crêem cegamente em tudo o que seu mentor espiritual diz, pois uma das leis dessa diabólica teologia é que se deve obedecer sem titubear a todas as instruções do líder ungido, senão Deus não prospera. E isso significa dar trízimos, ofertas de R$ 900,00, tomar banho de óleo, comprar rosa ungida, participar de atos proféticos patéticos etc.

  • Crentes não transformados. A Palavra de Deus nos diz que em Cristo somos novas criaturas, porém o que vemos é mais do mesmo num Brasil onde os que se dizem cristãos evangélicos crescem exponencialmente. Há cidades onde os evangélicos são maioria, e há bairros e ruas repletos de igrejas (já cheguei a ver, anos atrás, três denominações diferentes bem vizinhas, grudadas umas nas outras, numa importante rua da zona leste de São Paulo). Porém, nos últimos dez anos diminuíram as taxas de violência? Houve diminuição na corrupção? O brasileiro está mais honesto? Infelizmente não, e isso se explica porque não estão ocorrendo conversões verdadeiras no mesmo ritmo em que pessoas estão atendendo ao apelo de muitas dessas igrejas da prosperidade. Quando vemos que, em recente pesquisa, descobriu-se que a maioria dos deputados da bancada evangélica têm pendências judiciais, fica claro que muitas igrejas não estão promovendo a conversão de almas para Cristo, mas apenas amontoando membros para demonstrar poder, uma falsa espiritualidade e aumento de sua arrecadação através dos dízimos e ofertas que esse público paga para ter acesso à carteirinha de membro da instituição.

  • Crentes “descrentes”. Como a ênfase da grotesca Teologia da Prosperidade não é a busca de Deus por quem Ele é, mas a conquista de vitórias e riquezas através da busca de “deus”, seus fiéis, como bons consumidores deste mundo “capetalista” (ouvi essa expressão do Pr. Maurício, da Igreja Batista Nacional da Vila Paulicéia), se sentem no direito de pesquisar o mercado eclesiástico gospel, até achar a igreja onde as promessas de “deus” cheguem de forma mais rápida e com menores custos. Assim, esse é um dos motivos da grande migração que há entre fiéis nas igrejas: estou na congregação X, mas aí fico sabendo que na Y tem um pastor milagreiro, então vou para lá. Mas o milagre demora para chegar, e vejo na TV a campanha das 70-sextas-feiras-13 da congregação W, que dizem que é tiro e queda, então vou para lá buscar minha bênção. Deixo de crer em Cristo, para crer no ministério onde eu consigo alcançar tudo aquilo que líderes inescrupulosos me ensinaram que é meu direito adquirido, por ter me associado ao mundo gospel. E minha descrença só tende a aumentar, já que a prosperidade real, nesse mundo “capetalista”, é coisa para poucos – em geral, para os próprios líderes desses ministérios.

Esses são alguns dos frutos da obtusa Teologia da Prosperidade. Alguém duvida de que se trata de uma teologia totalmente infrutífera, segundo os desígnios de Deus?

Os grandes artistas gospel (pregadores e “levitas”) que pregam essa monstruosa Teologia da Prosperidade deveriam realmente se converter a Deus (pois estão convertidos a Mamom e seus demônios) e ter mais amor e respeito pela Palavra, já que se dizem adoradores de Cristo. Que Deus lhes abra os olhos enquanto ainda há tempo, e que permita que muitos dos que estão sob seus enganos se voltem para a verdade do Evangelho.

Igreja brasileira, chega de jogar sementes nos espinheiros! A Palavra de Deus, quando pregada em verdade, produz os verdadeiros frutos do Espírito, que se refletem individualmente e na sociedade ao nosso redor.

“E, vendo ele [João Batista] muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; e não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão. E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo. 

E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo. Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará.” – Mateus 3:7-12


VOLTEMOS AO EVANGELHO PURO E SIMPLES,
O $HOW TEM QUE PARAR!





quinta-feira, 26 de abril de 2012

As raízes do neopentecostalismo brasileiro




por Johnny Bernardo

Em maio de 2010 surgia a mais nova denominação neopentecostal brasileira: a Igreja Mundial Renovada. Também conhecida como Igreja Renovada da Fé em Jesus Cristo, a IMR surgiu um mês após a saída do Bispo Roberto Damásio da Igreja Mundial do Poder de Deus. Membro da cúpula da IMPD (à época, terceiro no poder após o Bispo Josivaldo Batista), Roberto Damásio anunciou a sua saída no dia 20 de abril, sem revelar os reais motivos. No mês seguinte, a IMR estreia seu primeiro programa na NGT. Passados quase dois anos (completará no próximo mês, 29), a Igreja Mundial Renovada já possui diversas filiais pelo Brasil e chegou à África. Sua presença nos meios de comunicação continua ativa e em fase de crescimento, com participação nas tardes e madrugadas da Rede TV, além de diversos programas radiofônicos.

O rápido crescimento da IMR e de outras denominações neopentecostais se explica em parte pela ofensiva de sua liderança e pelo espírito mercantilista que caracteriza suas atividades. O poder da comunicação e a ênfase nas campanhas de cura e libertação são características comuns do Neopentecostalismo. Quando falamos de neopentecostalismo, estamos nos referindo aos grupos cuja origem remonta aos movimentos de confissão positiva dos EUA, através de líderes como Essek William Kenyon e Kenneth Hagin. No Brasil, apesar de estabelecida a década de 70 como o período em que começa a se desenvolver o que Paul Freston chama de “terceira onda pentecostal”, o neopentecostalismo surge a partir de um conjunto de elementos característicos da “segunda onda pentecostal”, como o uso da mídia audiovisual na difusão doutrinária, o liberalismo, o combate às religiões de possessão e as campanhas de prosperidade.

A Igreja do Evangelho Quadrangular e a Igreja Cristã de Nova Vida foram os celeiros de onde o atual movimento neopentecostal surgiu e se estruturou. Harold William e Raymond Boatrigtht, atores e missionários enviados ao Brasil pela Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular, romperam com o tradicionalismo pentecostal brasileiro ao introduzir no país o pentecostalismo de costumes liberais. Começando por São João da Boa Vista (SP), em 1951, a IIEQ alcançou a capital do Estado em 1954, daí se espalhando por todo o país. À IIEQ se aliaram diversos lideres e membros das igrejas pentecostais e das igrejas históricas, atraídos pela mensagem de cura divina, propagadas a partir de São Paulo e tendo como ponto de apoio os programas radiofônicos.

Do Canadá, veio o Bispo Walter Robert MacAlister, que, a convite da IIEQ, pregou no Rio de Janeiro e em outros estados do Brasil, atraindo um grande número de seguidores. Depois de passar pelas Filipinas, Taiwan, Hong Kong e Paris, MacAlister decidiu se estabelecer no Brasil, morando primeiro em São Paulo e depois no Rio de Janeiro. Era o ano de 1959 quando MacAlister, sua esposa e filhos decidem se mudar para o Brasil. Dos filhos do casal (eles tiveram dois), Walter Robert MacAlister Jr. sucederia o pai na direção da Igreja Cristã de Nova Vida, algumas décadas depois. Estabelecido no bairro do Bonsucesso, em 1964, o primeiro templo da ICNV serviu de base para a inauguração, em 1971, do templo sede em Botafogo. A existência da ICNV está associada às campanhas de cura e libertação, promovidas pelo Bispo MacAlister, primeiro na Rádio Copacabana, em 1960, e depois com o programa Coisas da Vida, na extinta TV Tupi, a partir de 1978. No começo da década de 80, MacAlister abdica da pregação televisiva ao afirmar que a “televisão cria monstros” - talvez em referência ao Bispo Edir Macedo, que, à época, dava seus primeiros passos na telinha, em um programa intitulado “O Despertar da Fé”, também veiculado pela TV Tupi, canal 6.

O pai do neopentecostalismo brasileiro 

Natural do Rio de Janeiro, Edir Macedo abandonou o curso universitário sem o concluir. Dizia ser uma pessoa deprimida. Procurou alívio no Catolicismo, não encontrando. Fez-se então adepto do espiritismo, sofrendo nova decepção. Depois de algum tempo se converteu ao pentecostalismo, ingressando na Igreja Cristã de Nova Vida. Da convivência com os irmãos, conhece seu futuro genro e parceiro de ministério, Romildo Soares – mais tarde Missionário R.R. Soares. Era 1968. Quatro anos depois deixam, juntamente com Roberto Augusto Alves e os irmãos Samuel e Fidelis Coutinho, a ICNV, quando, no mesmo ano, fundam a Igreja Cruzada do Caminho Eterno. Em 1977, após a saída dos irmãos Coutinho da ICCE, Edir Macedo, Romildo Soares e Roberto Augusto mudam o nome da denominação para Igreja Universal do Reino de Deus, começando na Abolição (zona norte do Rio de Janeiro) - Roberto Alves, que sagrou Edir Macedo como Pastor e recebeu deste também a unção, regressou à ICNV. Descontente com a prepotência e o espírito mercantilista de Edir Macedo, Romildo Soares deixa também a IURD para fundar, em 1980, a Igreja Internacional da Graça de Deus. 

Único no poder, Edir Macedo coloca em prática parte de sua experiência e aprendizagem na Igreja Cristã de Nova Vida e associa a está o liberalismo da Quadrangular, criando em pouco tempo um império que, três anos depois, alcança os EUA, ao fundar a primeira IURD em Monte Vermont, Nova York. Nove anos depois chega a Portugal, e em 1996 funda a primeira IURD no Japão. Segundo Campos, o sucesso da Igreja Universal pode ser medido ainda pelo número de templos abertos até 1995: 2.014 no Brasil e 236 em 65 países, nos quais são atendidos cerca de quatro milhões de pessoas, que participam dos “cultos”, “correntes de fé” e “campanhas de fé”. (Lusotopie, 1999, p. 355)

Embora discordante de alguns pontos defendidos por MacAlister, Edir Macedo se apropria de parte de sua mensagem, que envolvia cura divina e prosperidade por meio da fé. Deu prosseguimento, também, ao trabalho nos meios de comunicação, elegendo a televisão como seu cavalo de Tróia. Até então explorada por pentecostais, como a Assembleia de Deus, e igrejas históricas, como a Batista e a Presbiteriana, a televisão passa a ser palco, nos anos seguintes, do trabalho de convencimento e propaganda da Igreja Universal e da Igreja Internacional da Graça de Deus e, futuramente, da Igreja Mundial do Poder de Deus. As pentecostais e históricas ocupariam uma pequena parcela de horários, com exceção do programa “Vitória em Cristo”, antes sem denominação oficial, mas a partir de 2010 ancorada na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, sendo Silas Malafaia o presidente.

Da IURD à Mundial Renovada 

Da Igreja Universal do Reino de Deus surgiriam inúmeras outras igrejas neopentecostais, com exceção da Renascer em Cristo (de origem pentecostal – seus fundadores eram membros da Igreja Pentecostal da Bíblia, Jabaquara, SP), da Igreja Evangélica Cristo Vive (fundada pelo ex-pastor da Igreja Cristã de Nova Vida, o angolano Miguel Ângelo) e de grupos minoritários, como a Bola de Neve (fundada pelo Apóstolo Rina, ex-pastor da Renascer em Cristo) e Sara Nossa Terra (fundada pelos bispos Robson e Maria Rodovalho, de origem presbiteriana).

Da Igreja Universal surgiria, ainda no fim da década de 70, uma dissidência organizada pelos irmãos Coutinho. As duas maiores dissidências da IURD, entretanto, surgiriam nas décadas seguintes: a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980) e a Igreja Mundial do Poder de Deus, do Apóstolo Valdomiro Santiago (1998). Da IIGD não se conhece nenhuma dissidência, mas da IMPD surgiriam, entre 2010 e 2011, quatro igrejas: a Igreja Mundial Renovada (05/2010), Igreja Missionária do Amor (08/2010), o Templo Mundial Resgate da Fé (09/2010) e a Igreja Evangélica Celeiro de Deus (10/2011). Das igrejas dissidentes, três foram fundadas por aliados de Valdomiro Santiago: Givanildo de Souza (segundo na cúpula da IMPD e fundador da IMA), Roberto Damásio (terceiro na ordem e fundador da IMR) e Sebastian de Almeida (homem de confiança da IMPD e fundador do TMRF). Do quadro original de dirigentes e apresentados em matéria publicada pela revista Época, apenas Francileia de Oliveira (esposa de Valdomiro Santiago) e Ronaldo Didini (ex-homem de confiança de Edir Macedo, e consultor de mídia da IMPD) permanecem ao lado do fundador. Para às igrejas dissidentes também seguiriam, em grande número, outros bispos da IMPD. Outros líderes e igrejas dissidentes surgirão nos próximos dias. Aguarde!



Johnny Bernardo é jornalista, pesquisador da 

religiosidade brasileira


sábado, 14 de abril de 2012

A verdadeira origem da música para nossa alegria !!!!

Para a Nossa Tristeza: A história da banda Exodos (autores da canção Galhos Secos) que foi expulsa da Igreja Batista



A música "galhos secos", da banda de rock cristão (da déc. de 70) Exodos, na polêmica performance de Jefferson e Suellen , se tornou o maior viral nacional desde que Luiza voltou do Canadá e sumiu novamente em Salvador....

Conheça mais sobre a Exodos, o grupo que compôs esta bela canção e foi excluído da igreja Batista em 1976 em um ato descabido de intolerância - um farisaismo musical que, para a nossa alegria, a nossa denominação deixou para trás há trinta anos. 

A seguir, a nesta matéria do Renascer Prime e do Arquivo Gospel: 





Êxodos é o nome da primeira banda brasileira de rock evangélico que se tem conhecimento. A banda iniciou sua formação em 1970 e a partir do ano seguinte começou a se dedicar ao rock. Em seus 7 anos de existência não chegou a gravar nenhum disco, mas agitou a mocidade da época, bem como provocou polêmicas dentro e fora da igreja, vindo a ser até matéria de reportagem da revista VEJA, por duas vezes. Uma das músicas da banda, Galhos Secos gravada pelos grupos SOM MAIOR, CATEDRAL e RUTHS, é conhecida até hoje.

O fim da banda aconteceu depois da pressão por parte de líderes da Igreja Batista, da qual faziam parte.

Em 2007 a banda lançou seu primeiro cd com treze canções de seu repertório original, entre elas a música "Galhos Secos". Para adquirir, entre em contato:  e-mail: bandaexodos@terra.com.br
Na entrevista concedida ao Arquivo Gospel em 20/06/2005, os integrantes Edson, Osvair e Osni falaram sobre a exclusão da igreja Batista, além da forte repressão que o rock sofria dentro das Igrejas Evangélicas.

Como e quando se deu o início da banda Êxodos?

ÊXODOS: Tudo começou em 1970. Fazíamos parte do grupo de adolescentes da Igreja Batista de Vila Bonilha em São Paulo  SP quando nos conhecemos. Com uma formação musical obtida à base de professores particulares e muita intuição, iniciamos nossas apresentações na Escola Dominical (cultos de estudo bíblico realizado nas manhãs de domingo). Durante o momento do louvor entoávamos cânticos, chamados na época de corinhos, utilizando apenas dois violões e partes de uma velha bateria. Com o passar do tempo, os arranjos evoluíram para o rock que era o nosso estilo favorito. O som foi melhorando em qualidade e nossas vidas foram sendo lapidadas por Deus. Em 1971 passamos a compor músicas que eram tocadas nos cultos regulares da igreja. Recebemos de alguns membros incentivo moral e apoio financeiro; foi quando compramos uma aparelhagem nova. Nosso novo estilo de música rock não tradicional num templo evangélico, nossa maneira extravagante de se vestir e nossas letras que protestavam contra as emoções passageiras como drogas, bebidas, amor livre, e valorizavam uma nova vida em Cristo Jesus, foi contagiante e atraiu muitas pessoas para os então concorridos cultos da igreja; na maioria jovens não crentes que viam em nós algo diferente e descobriam que Jesus não era careta. Logo surgiram convites para apresentações em outros locais: igrejas de diversas denominações, acampamentos, festivais de música evangélica e, em todos eles, para nossa alegria, jovens tinham suas vidas transformadas; eram como flores brotando em galhos secos. Percebemos então que algo sobrenatural estava acontecendo: estávamos sendo usados por Deus. Colocamos nosso talento em suas mãos e foi assim que começamos.

Como é que surgiu o nome da banda? Por que o nome Êxodos? 

Sendo Jesus a razão do nosso viver, sentimos uma nova vida dentro de cada um e logo no início passamos a nos apresentar como Conjunto Nova Vida, mas certo dia, olhando para os jovens à nossa frente enquanto tocávamos, percebemos que muitos buscavam essa nova vida, procuravam uma nova terra prometida. Escravos do vício, prisioneiros do pecado, estavam sendo libertos. Saindo como os hebreus do Egito eram vidas sendo transformadas por Deus. Surgiu daí o nome da banda: Êxodos.

Quem era quem na banda? 

Iniciamos com: Edson bateria, Eli  Baixo, Nelson vocal, Osny  guitarra solo e Osvair  violão e guitarra base. Em 1973, com a vinda do Lucas calu para a banda, evoluímos tanto na qualidade de voz quanto nos arranjos e daí surgiu a formação ideal e definitiva com quatro integrantes: Edson  bateria, Lucas  violão, guitarra base e vocal, Osny  guitarra solo e vocal, Osvair  baixo e vocal. O Lucas compôs algumas canções, entretanto a maioria das nossas músicas foram compostas pelo Osny e Osvair.

Como estão hoje os 4 integrantes da banda?
Atualmente estamos beirando os cinqüenta anos de idade e após o término da banda em 1977, ficamos afastados da Igreja por um bom tempo, mas continuamos firmes na fé. Continuamos convictos da importância de exaltar Jesus Cristo através da música gospel e sempre que possível, nos reunimos na casa do Osvair, montamos nossos instrumentos e fazemos um culto de louvor com novos cânticos, mas não deixamos de cantar algumas das canções da banda Êxodos que marcaram nossas vidas e a vida de muitos jovens nos anos 70.

Quantas músicas cristãs vocês chegaram a compor? Ainda continuam compondo?

Não dá para saber ao certo. Foram mais de cinqüenta músicas que fizeram parte do repertório da Banda Êxodos. O Osvair e o Osny não pararam de compor. Vez ou outra quando nos reunimos surge um novo cântico nos mais variados estilos. Agradeço a Deus por ter dado esse talento a eles.

Não houve nenhuma oportunidade de gravar um disco na época? 

Estávamos prontos para gravar, mas o custo estava além de nosso alcance e a igreja que freqüentávamos ficava na periferia de São Paulo e não dispunha de recursos financeiros suficientes. Procuramos um estúdio ou gravadora evangélica, mas acho que não havia, pois não conseguimos encontrar. A mídia não divulgava a música evangélica como hoje em dia e, infelizmente, forçados a parar com o conjunto, pouco ficou registrado.

Como vocês foram parar em duas reportagens da Revista VEJA daquela época?

A primeira reportagem, VEJA nº 273, de 28 de novembro de 1973, refere-se à Semana de Oração, promovida pela Associação Cristã de Moços - ACM de Pinheiros, em São Paulo, que reuniu em um ginásio de esportes, católicos, batistas, presbiterianos, pentecostais e metodistas, para uma confraternização ecumênica. Foram apresentados palestras, jograis, debates e diversas outras atividades pelos representantes de cada denominação. Nossa banda foi convidada pela ACM para se apresentar no encerramento do evento e dirigir o louvor e, por esse motivo, fomos citados na reportagem como participantes.A segunda reportagem, VEJA nº 428 de 17 de novembro de 1976, refere-se à nossa saída da Igreja. Na ocasião, fomos procurados por uma repórter que disse ter visto uma de nossas apresentações, mas não me lembro os detalhes ao certo. Após saber do ocorrido, ficou interessada em nos entrevistar.

Vocês tocaram por 3 anos no templo da Igreja Batista de Vila Bonilha, em São Paulo. Como eram essas apresentações?

No domingo sempre demos prioridade à igreja. Nossas apresentações em outros locais eram realizadas aos sábados. Na Escola Dominical acompanhávamos a classe de jovens e adolescentes em suas apresentações. À tarde fazíamos o culto ao ar livre em praças do bairro utilizando apenas violões. Já os cultos da noite eram concorridos; muitas vezes havia a necessidade de se fazer dois, tal era a quantidade de pessoas, na maioria jovens que vinham na igreja para ver e participar de algo diferente dos padrões evangélicos para a época. E quando retornavam no outro domingo sempre traziam mais alguém com eles. Geralmente eram tocadas quatro ou cinco músicas de nosso repertório e depois a gente dirigia o louvor.

Vocês participaram de outras atividades e igrejas, além da Igreja Batista de Vila Bonilha?

Nosso conjunto participou por duas vezes do festival de músicas evangélicas em Itajubá-MG. Na primeira vez em 1972 ganhamos com a música Maravilhas que Cristo fez por mim e no ano seguinte ficamos em terceiro lugar com a música Galhos Secos. Também participamos em um programa na TV Gazeta, acampamentos, encontro ecumênico realizado na ACM, encontro de jovens. Éramos convidados para tocar em Igrejas de diversas denominações: Batista, Presbiteriana, Pentecostal, mas infelizmente o Rock não era bem visto pelos conservadores da época que diziam: "O rock é do diabo; se tocarem qualquer disco de rock ao contrário ouvirão mensagens demoníacas".



No início a banda tocava, como vocês diziam, um "som maneiro" que agradava muita gente. Mas como era esse som?

Apesar de roqueiros convictos, sabíamos que esse estilo de música dentro de um templo evangélico não era bem aceito na época e com certeza provocava reações contrárias. Alguns membros davam total apoio, mas infelizmente uma grande parcela se mostrava descontente. Mesmo vendo a igreja lotada diziam: "vocês precisam maneirar". Preferiam o estilo tradicional norte-americano. Permitiam apenas alguns corinhos lentos e tocados dentro de uma certa rigidez formal, sem muita bateria, sem gestos ou palmas, ou seja, sem liberdade de espírito. Para não fazer frente à oposição e respeitando a hierarquia da igreja, tocamos por muito tempo uma ou duas músicas mais agitadas, que era o polêmico rock, e depois duas ou três um pouco mais lentas, com arranjos maneiros "suaves".

Depois vocês evoluíram para um controvertido "rock pauleira". Quais foram as novidades desse novo som do Êxodos? Houve influências diretas da música de cantores e bandas não-evangélicas da época?

Durante os ensaios e sempre que convidados a nos apresentar em outros locais, a banda tocava normalmente as músicas do repertório. Nosso objetivo sempre foi o de louvar a Deus com o talento que ele nos deu, sem a preocupação de evitar essa ou aquela música e com certeza o rock pauleira que talvez para os dias de hoje nem fosse tanta pauleira assim, já era tocado.

 A evolução para o rock pauleira, conforme reportagem feita pela revista Veja em novembro de 1976, foi quando decidimos que em nossa igreja não iríamos mais maneirar. Era um momento de romper barreiras, quebrar preconceitos. Era um movimento do Espírito Santo que estava acontecendo. Começamos a nos perguntar: Será possível um dia adorar a Deus com liberdade de expressão? Porque os jovens crentes não podem louvar ao Senhor tocando rock evangélico? Era importante fazer alguma coisa e decidimos então tocar com sinceridade e do jeito que Deus colocou em nossos corações, pois temos que oferecer o melhor para ele, e não ficar presos à vontade de certas pessoas, costumes e tradições. Quanto às influências de bandas não-evangélicas, houve sim, pois o rock nacional contagiava muitos jovens com músicas de protesto, devido às restrições impostas pelo regime militar. Bandas como os Mutantes, o Terço, e o Made in Brazil, de excelente qualidade, trouxeram novas técnicas influenciando nossos arranjos. Era preciso estar atualizado e não havia referências no meio evangélico, mas sempre nos preocupamos em divergir desses três conhecidos luzeiros do rock nacional em razão de um compromisso com Deus.

Como é que foi esse incidente com a vizinha da igreja que se incomodou com o "rock pauleira" da banda e queria dar queixa à polícia?

O movimento contra nosso estilo de música na igreja era latente, entretanto não havia para os conservadores razões que justificassem ou impedissem nossa permanência, pois a igreja estava crescendo, os cultos eram uma benção e o pastor Samuel de Andrade, nos dava total apoio. Sempre soubemos respeitar os horários estabelecidos pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e até havia um bom relacionamento com essa vizinha. Posteriormente, convencida por alguns membros, a vizinha mudou de lado, passou a nos combater não importando qual fosse a hora. Dizia que não suportava o estridente som do Êxodos. E o incidente só não evoluiu para uma situação mais delicada porque o pastor Andrade convenceu a vizinha a não apresentar queixa à polícia, como ela ameaçava, argumentando tratar-se de um assunto interno de seu templo e de sua inteira competência. Naquela época, a igreja tinha como dever, promover a ordem dentro de princípios morais estabelecidos pelo regime militar através do AI-5 (Ato Institucional do Ministério da Justiça). Para os que faziam oposição ao pastor e ao nosso conjunto, esse fato caiu como uma luva, agora tinham um motivo. Inflamados em uma reunião diziam: fora com esses rebeldes, fora com o Êxodos !

Quer dizer que havia, também, membros na própria Igreja Batista de Vila Bonilha que queria o fim ou a saída da banda Êxodos?

Sim, alguns membros eram contrários ao nosso estilo de música e não aprovavam a utilização de instrumentos musicais como guitarras e bateria dentro do templo. Não era uma questão pessoal; apenas preferiam o estilo tradicional e essa atitude talvez ainda ocorra em algumas igrejas nos dias de hoje. Promoveram uma seção extraordinária e com a maioria dos votos decidiram que deveríamos parar de tocar. Temos que saber respeitar os diversos pontos de vista e prefiro não julgar se estavam certos ou errados.

Houve outros incidentes semelhantes a esse da vizinha?

Bom, os demais incidentes se resumem ao nosso estilo de música, mas aqueles que nos convidavam sabiam como era o som. Por vezes nos impediam de tocar no templo, o que para nós não era surpresa. Sem problemas, íamos lá pro salão da mocidade, pois o que importava era adorar em espírito e em verdade. Graças a Deus, incidentes semelhantes ao da vizinha não houve.

Como se deu a "exclusão" de vocês da igreja?

Apesar de ouvir tantas barbaridades, de muitas vezes ser impedidos de tocar no templo e convidados a tocar no salão da mocidade, continuamos firmes na certeza de que estávamos louvando a Deus e valorizando a nova vida através da fé em Cristo Jesus. Porém ao sermos convidados a sair da Igreja ("excluídos") em 1976, na época tínhamos entre 18 e 20 anos de idade, entendemos que não adiantava insistir. Os ditos roqueiros não eram vistos com bons olhos pelo governo e conseqüentemente pela igreja, então resolvemos parar, fato esse registrado pela Revista Veja nº 428 de 17/11/1976 com o tema Rock proscrito: No porão, o ensaio do Êxodos: o "rock pauleira" foi a perdição. Acho que aquela ainda não era uma época apropriada para se tocar rock no meio evangélico.

Depois de "excluídos", por que vocês não conseguiram se firmar mais em outra igreja evangélica?

Para quatro jovens batistas, familiarizados com a doutrina, era difícil aceitar outra. Durante nossas apresentações conhecemos diversas igrejas de diversas denominações. As que nos deram maior apoio foram as igrejas pentecostais, e a que aceitou por diversas vezes nosso som dentro de seus templos, sem ressalvas, foi a Igreja Brasil para Cristo. Depois de convidados a sair "excluídos", a tristeza bateu forte, demoramos a aceitar o fato e ficamos profundamente decepcionados. Era uma época difícil, protestos e passeatas geralmente feitas por jovens contra o regime militar eram proibidas. A maioria dos jovens eram taxados de rebeldes e talvez por isso ninguém apareceu para dar uma palavra de conforto ou orientação. Não procuramos outra igreja por achar que ninguém iria querer uma banda de rock. Ficamos parados, desanimados e completamente perdidos. Esquecemos de dobrar nossos joelhos e orar. Hoje sabemos que a atitude de um servo de Deus diante das dificuldades é nunca desanimar, mas dobrar os joelhos e pedir ajuda em oração. Agir conforme diz a letra de um cântico daquela época: Quem tem Jesus gosta de cantar, está sempre sorrindo mesmo quando não dá, tropeça aqui ou cai acolá, mas depressa levanta e começa a cantar.

Depois que vocês saíram da igreja, o que aconteceu com o pastor Samuel de Andrade? Por onde ele anda hoje em dia?

Posteriormente à nossa saída da Igreja o Pastor Samuel, que nos dava total apoio, provavelmente ficou com problemas naquele lugar. Como eu não estava mais freqüentando o local, apenas sei através de alguns amigos que, poucos meses da nossa saída, ele também saiu da igreja, deixou o ministério de pastor e atualmente está como membro em uma Igreja Batista de São Paulo.

E hoje, vocês estão freqüentando alguma igreja?

Em 1984 comecei a freqüentar a Igreja Bíblica da Paz, ficando como membro até 1991. Atualmente tenho participado apenas como visitante em algumas igrejas de São Paulo. O Osvair está freqüentando a Igreja Assembléia de Deus. O Osny tem visitado diversas igrejas juntamente comigo e com o Osvair, mas ainda não se decidiu por uma delas. O Lucas mudou para Santos e não está freqüentando nenhuma igreja.

A Igreja Batista de Vila Bonilha continuou seus cultos com a "casa cheia" depois que vocês saíram?

Pelo que pudemos saber, a igreja sofreu uma significativa redução na quantidade de freqüentadores. Muitos de nossos amigos e irmãos em Cristo estão hoje em outras igrejas.

Você disse que esteve visitando recentemente a Igreja Batista de Vila Bonilha. Como foi essa visita?

Foi durante uma tarde, apenas para ver como estava o lugar. Não fui ao culto, apenas passei em frente, e acabei encontrando um irmão que era membro da igreja na época da nossa banda. Ele disse que a igreja não tem mais a quantidade de freqüentadores que havia naqueles tempos, muita coisa mudou e que todos daquela época saíram.

Quem vocês conheciam no meio evangélico, dos anos 70, que tocava rock cristão? 

Que tocava rock cristão, ninguém. E olha que viajamos por várias cidades no interior de São Paulo e até outros estados.

A canção Galhos Secos, conhecida até hoje, foi gravada pelo Som Maior e o Catedral. Tem outras canções do Êxodos que foram gravadas por outros cantores e grupos?

Gravadas não. Sempre tivemos a esperança de gravar primeiro antes de outros cantores ou grupos, mas infelizmente não foi possível. Hoje pensamos diferente; foram músicas dadas por Deus e consagradas para seu louvor. Se houver interesse de algum grupo, é só entrar em contato que iremos autorizar.

Deixem uma mensagem aos internautas do Arquivo Gospel:

Amado, você não vive pelas decisões de homens e preconceitos; você vive pelos princípios da Palavra de Deus. Permita que o Espírito Santo encha sua vida com sonhos que vêm do céu; faça aquilo que Deus colocar em seu coração mesmo que para isso tenha de romper barreiras. Ofereça o melhor para Ele, não fique preso à vontade de certas pessoas, costumes e tradições. Expulse a incredulidade e dê espaço amplo para a fé agir na sua vida. Consinta que o seu coração seja inundado com novos pensamentos e desejos de consagrar-se com mais fervor ao Senhor, mesmo diante das adversidades. Para tanto, você tem que conhecer bem a Bíblia, saber expor a doutrina, e ficar firme diante dos vendavais constantes que nos atingem. Há momentos que na vida perdemos alguma coisa e surge a tristeza. Pessoas podem causar decepção ou aborrecimento, seja por falta de vigilância ou pelos cuidados do mundo. É nessa hora que estamos à mercê do inimigo, somos enlaçados e envolvidos. É preciso pedir ajuda. Se não corrermos para o altar do Senhor, em busca de auxílio e solução imediata para o problema, seremos vencidos e escravizados pelo pecado. A indicação certa para a restauração de nossa vida está em Jesus.





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