sexta-feira, 1 de junho de 2012

O milagre da incredulidade


O milagre da incredulidade



Digão

Hoje em dia, vejo que o que chama a atenção do pessoal das igrejas é a questão do milagre. Não que eu descreia na existência deles, mas acho que essa ênfase nos milagres muito ruim. Afinal, se as pessoas estão num caminho de milagres que hoje vai chegar, qual o destino final deste caminho?

Lendo a Bíblia, especialmente os Evangelhos, é espantoso como Jesus foi parcimonioso em relação aos milagres quando estes se referiam aos Seus discípulos. Tudo bem que a sogra de Pedro foi curada (Mt 8.14, 15), e o Senhor andou por cima das águas para Se encontrar com os discípulos em meio a uma grande tempestade (Mc 6.45-52); mas, com exceção destes, não sei de nenhum outro milagre feito para os discípulos.

Em compensação, vemos um monte de milagres direcionados para pessoas de fora do círculo de intimidade de Jesus: água transformada em vinho (Jo 2.1-12), demônios expulsos (Mc 7.24-30), pessoas mortas ressuscitando (Lc 7.11-17), leprosos ficando limpos de seu mal (Lc 17.11-19), pães e peixes multiplicados que alimentam uma grande multidão (Mt 14.13-21), gente doente ficando sã (Mc 7.31-37).

Ao que parece, o discípulo Filipe entrou nessa onda de milagres. Enquanto Jesus confortava seus discípulos, pois a hora de Seu sacrifício estava chegando, Filipe disse ao Senhor que ficaria satisfeito só em ver milagrosamente o Pai (Jo 14.8). Jesus lhe deu uma resposta que serve para todos nós hoje: quem vê a Mim vê o Pai (Jo 14.9).

Ou seja, a razão da pouca quantidade de milagres entre os discípulos é que eles já tinham o melhor de Deus (que já veio, não está por vir), que é o próprio Jesus. Já as multidões, que não tinham a convivência com o Senhor, tiveram que se contentar com o pequeno paliativo dos milagres.

Sim, creio em milagres. Mas creio também que há algo maior que se esconde por trás desta questão, que é a incredulidade. John Stott certa vez afirmou que a ênfase que alguns dão ao dom de cura é uma cortina de fumaça para a falta de fé. Afinal, o Deus que cura doentes é o mesmo que manda maná do céu ou levanta mortos do túmulo, mas não vejo ninguém pedindo para cair pão celestial... O mesmo se dá em relação aos milagres: como o relacionamento com Jesus envolve fé, amadurecimento e, consequentemente, tempo, compromisso e mudança de vida, muita gente descobriu um paliativo religiosamente aceitável, que é a busca frenética por milagres.

Enfim, não nego a realidade dos milagres. Eles atestam a intervenção externa de Deus em um sistema aberto, que é nosso universo. Mas Deus já providenciou algo melhor. Em vez de ações pontuais, externas e isoladas, temos a presença (interna) constante de Jesus, que prometeu nunca nos abandonar (Mt 28.20). E isso, definitivamente, é muito melhor do que qualquer milagre. 



L

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